terça-feira, 8 de abril de 2008

Meu Quixeré



Nesta primeira janela, que se abre de mim, irei ilustrar o Quixeré. Meu Quixeré, Quixeré de tantas negras, mulatas, das "morenas de Angola", mestiças. Quixeré da mina, da sheelita louca na bateia, da barragem que foi embora e foi reconstruída, da Capela de São Sebastião, idealizada pela minha avó Francisca Catarina, da Casa do Alto de bailes e mesa larga...O Quixeré das banquetas, das inúmeras faveleiras, pereiros, oiticicas, umbuzeiros, pé de laranja, pé de cajarana. O Quixeré do "arrasta pé" no terreiro, ao som do fole, do zabumba... Meu Quixeré tem muitas imagens, algumas coloridas, outras em preto e branco. Quixeré do meu pai, do bangalô, da cerca de pedra, da favela que machucava meu pé quando criança. Quixeré de túneis que me assustavam quando criança e ao mesmo tempo encantavam, quando lembrados nas histórias da Mina; relatadas como contos de fada...Quixeré das férias, do leite bebido no curral, do banho no Poço das Mulheres ou na barragem transbordando. Quixeré Quilombo, conquista de um negro nascido na Lei do Ventre Livre, conquista de meu avô paterno João Ursulino de Maria.
Quixeré do canto de Bosco ecoando pela caatinga, do som da costura de Francisca, do som da bateia de Mariêta, da presença de João do bangalô, da mansidão de Chagas, do José que buscava ouro na terra seca, da Rita que foi tão cedo, da Verônica tão vaidosa, de Nevinha tão bela, de Joaquim idealista, do Aderaldo sonhador, do Manoel que apostou em São Paulo e do Adelso que apostou no Pará...
Quixeré dos que se foram, dos que permanecem e dos que virão. Quixeré és tão vivo e reluzente quanto nos anos dourados da Mina de Sheelita, porque seu brilho é eterno, seu brilho é sua gente.
Fotografias: albúm de família
Anna Jailma

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